Reforma ortográfica só trouxe prejuízos, dizem editoras

01-03-2011 10:36

 

Após dois anos, promessa do governo de que o acordo ampliaria os mercados das editoras ainda não foi cumprida

 

Matt Cardy/Getty Images

 
livros

Acordo ortográfico: editoras brasileiras ganhariam mercados em países com o mesmo idioma

São Paulo - A promessa do governo de que o acordo ortográfico abriria mercados internacionais às editoras brasileiras, com a unificação da língua portuguesa, pode ter ido por água abaixo. Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), o volume de exportação de livros para alguns países lusófonos vem decrescendo depois que a nova ortografia entrou em vigor.

 

Em 2008, ano em que o acordo ainda não vigorava, a exportação de livros para Portugal, Angola, Moçambique e Cabo Verde, países que aderiram à nova ortografia, movimentou cerca de 15 milhões de dólares. No ano passado, o montante somou pouco mais de 9 milhões de dólares, queda de quase 40% na comparação entre um período e outro.
 
A queda no valor, no entanto, não é reflexo de que os livros ficaram mais baratos. O volume de livros exportados foi reduzido pela metade na comparação entre 2008 e 2010.
 
Segundo o ministério, a exportação total de livros brasileiros vem caindo ano a ano. Em 2008, as exportações de títulos somaram 37,7 milhões de dólares. No ano passado, o montante exportado foi de 26,8 milhões de dólares.
 
Proposta
 
Quando entrou em vigor, em janeiro de 2009, o acordo tinha como um dos principais propósitos ampliar a atuação das editoras brasileiras em países com o mesmo idioma. A entrada ficaria mais fácil e os custos reduzidos, uma vez que não seria necessária a tradução ou adaptação das obras exportadas.

Editoras consultadas por EXAME.com afirmam que o que deveria gerar ganhos para as companhias brasileiras, até o momento, só trouxe prejuízos. Segundo Sergio Machado, presidente editorial da Record, se o acordo ainda vai favorecer algum país, deve ser Portugal, que está mais perto da África e tem mais chances de fechar parcerias com países desse continente.

 

Prejuízos
 
“Há o problema também de que livros não são vendidos por idiomas e sim por direitos autorais. Não vejo vantagens econômicas e, até agora, a Record só somou gastos para adequar todas as obras ao novo português”. De acordo com Machado, o custo médio para reeditar um livro seguindo as novas regras ortográficas gira em torno de 500 reais. A Record possui 8.000 títulos catalogados. “O benefício, então, foi zero”, afirmou.
 
A fatia de exportação da Record, nesses dois anos de acordo, não aumentou . A editora exporta 0,5% do faturamento anual, cerca de 50.000 dólares – um volume muito baixo e sem perspectivas de crescer no longo prazo. Entre os títulos mais conhecidos da companhia, estão “Quem mexeu no meu queijo”, de Spencer Johnson, e o consagrado livro da literatura brasileira “Vidas Secas”, de Graciliano Ramos.
 
A editora Sextante tem uma avaliação semelhante sobre o acordo. Mesmo não contando com um volume significativo de livros exportados, por ter mais de 95% de seu portfólio composto por traduções, não vê nenhuma vantagem financeira no acordo.
 
Segundo Paul Christoph, diretor de direitos autorais da editora, há também problemas culturais que dificultam a entrada de obras brasileiras em outros países, ainda que o idioma seja o mesmo. "O humor daqui não é o mesmo que o de lá, então, não basta apenas traduzir”, diz.
 
Apesar de não abrir números, Christoph diz que a Sextante teve gastos consideráveis para a adaptação de seus títulos à nova reforma ortográfica e não vê pela frente nenhum retorno dos investimentos feitos até o momento.